Noite abismal e seca de nossa existência
Às vezes
acordo para o momento presente
Vindo de
muito longe de dentro de mim
Ou de
dentro de alguma outra coisa onde me enfiara
Lá de
algum lugar onde meus sentidos amortecidos conformam-se reconfortados no calor
de uma falsa consciência
Onde
pareço viver a maior parte do tempo,
Iludido
e entretido com falsas complexidades.
Nestes
momentos de dolorosa e simples lucidez
Encaro o
vazio de meu ser e pergunto
O que há
para além de meus lamentos neuróticos
De
minhas insatisfações histéricas
De
minhas manias infindáveis?
Será
mesmo o mundo tão ruim,
Ou
imagem demonizada criada por mim
Para me
cobrir de mim mesmo
Na noite
abismal e seca de minha existência?
Nesses
momentos de extático horror
Ainda
com um calafrio me ocorre
Se a
parte doente me protege do vazio
Há véu
ideológico mais perfeito
Que nossa
vida racional e nossas metas altruístas
E a
peleja suada da conquista
Para nos
cobrir de nós mesmos
Na noite
abismal e seca de nossa existência?