Friday, January 04, 2019

Família

Família não é tudo certinho
Ninho de passarinho
Estrela no caderninho.

Alguns vão outros vêm
Às vezes tudo encaixa
Quase sempre algo falta.

Família tem problema
Família tem poema
Toma tempo para entender
Família é como dá pra ser.

Sunday, April 12, 2015

Os instrumentos de combate à corrupção só funcionam na Democracia

Sair às ruas pelo fim da corrupção é justo. Manifestar-se publicamente pela sua opinião é democrático. Apoio tudo isto. Agora, uma minoria pede a volta dos militares e/ou a interrupção do processo democrático por outros meios. A esta minoria me refiro:

Qual a lógica de pedir a volta da ditadura para combater a corrupção? Senão vejamos (check-list):
a) Ditadura tem imprensa livre para denunciar corruptos?
b) Ministério Público tem autonomia para denunciar políticos na ditadura?
c) Judiciário tem autonomia para julgar corruptos na ditadura?
d) Você tem liberdade de bater panela ou sair às ruas em protesto na ditadura?
e) Ditadores são naturalmente santos e incorruptíveis, e numa ditadura a corrupção desaparece automaticamente devido a esta natureza?
Por último,
f) Já ouviu falar de impeachment do presidente em ditadura?
Resposta: respectivamente, não, não, não, não, não e ... também não.

Portanto, sair às ruas para pedir pra proibir sair às ruas, tentar coibir corrupção pedindo o fim dos instrumentos de coibir corrupção, e noticiar favoravelmente pessoas que querem o fim do noticiário ou é contraditório ou é má fé.

Monday, December 15, 2014

É um longo trajeto da inocência até a decência

É um longo trajeto da inocência até a decência. Passa pelo egoísmo, pela avareza e pela arrogância. Alguns ficam no caminho, confortáveis. Outros se perdem, perdem a meta de vista. Nestes há pelo menos uma espécie de inquietude. Ei, não precisa ser “super”; não tem que ser perfeito (a); é permitido errar. A meta é mais simples: tornar-se um ser humano decente.


It is a long way from innocence to decency. It goes through selfishness, avarice and arrogance. Some park in the way, comfortably. Others get lost; lose the sight of the goal. In these, there is at least a sort of disquietude. Hey, you do not have to be “super”; you do not have to be perfect; mistakes are allowed. The goal is simpler: to become a decent human being.

Monday, December 01, 2014

A VIDA NÃO É VITALÍCIA ou AO MEU AMIGO PADRE


Fiz um amigo padre. Conheci tantos padres em minha juventude, quando era católico praticante, e contei intimidades no confessionário que não contei a mais ninguém nunca. Nem ao psicólogo. Mas nunca tivera um amigo padre.

Hoje já não creio. Mas não posso deixar de admirar a força de um espírito que abre mão dos prazeres deste mundo por acreditar em outro (alguns prazeres: talvez tenha sido sábia a decisão de renunciar às mulheres e ficar com o vinho; trata-se de escolha mais longeva).

Eu, de minha parte, busco ser um ser humano decente, ajudar quem eu posso ajudar, e cultivo um nebuloso amor pela humanidade, genérico e absolutamente inútil.

Sei que temos que chorar e enterrar nossos mortos, e celebrar nascimentos e casamentos com alegria de alma. Casamentos (de todos os tipos) são parte importante da vida; e, como ela, temporários. Não poderia ser de outra maneira, pois nem a vida é vitalícia.


Não sinto necessidade de religião para isso. Talvez apenas em dias em que não sei por que. Mas, para estes dias é que servem os amigos.

Thursday, January 23, 2014

Afinal, para que mais um Homem-Aranha?

PERDI O SONO às três e meia da madrugada e, ao invés de ficar rolando na cama resolvi ver um filme idiota na TV. Escolhi The Amazing Spiderman, de Marc Webb (nome apropriado para dirigir o filme, aposto que devia ser um sonho de infância), com texto de James Vanderbilt. Afinal, para que mais um filme do homem-aranha? só para voltar a dormir.

Decepcionei-me: o filme é muito bom! Aí que não voltei a dormir mesmo.


Chama a atenção logo de início pela fotografia. Não é a fotografia típica de Hollywood, mas para nós brasileiros, tem aquela luz “de novela”. Clima de novela. Aliás, parece novela. Não sei o termo técnico para isso (talvez o Arthur Bandeira possa nos ajudar e escrever lá embaixo para nós). As primeiras cenas então deram a impressão de filminho para vir o sono. Mas depois esse efeito compensa: ninguém espera efeitos especiais em novela, e a coisa ganha um aspecto de realismo surpreendente. Os movimentos do homem-aranha, no chão e no céu de Nova Iorque, o lagartão em que o Dr. Connors se transforma, tudo parece continuação natural de uma iluminação cotidiana.

Para fazer o tio Ben e a tia May, o diretor “apelão” invocou espíritos ancestrais: Martyn Sheen e Sally Field. Os melhores tios de homem-aranha do cinema até hoje. Andrew Garfield, que na primeira luz “de novela” parece um garoto jovem demais inevitavelmente destinado ao fiasco, acaba convencendo como Peter Park, justamente pela ingenuidade juvenil, magistralmente manifestada pelo seu sorriso idiótico. A pobre Emma Stone não tem, em termos de beleza, chance para a Gwen Stacy da imaginação cincoentona que leu o gibi preto-e-branco direto da banca de jornais, mas é uma Gwen que sai da folha de papel. Gwen era minha namorada de aracnídeo predileta que um dos roteiristas de Stan Lee teve a desumanidade de matar. Parker teve que se contentar com Mary Jane Watson depois disso. Pas mal, pas mal.


Webb capturou o espírito aracnídeo que me conquistou na adolescência: o humano do herói e dos demais personagens (no filme, Peter diz ao pai de Gwen durante o jantar que o Aranha não é herói). Foi o primeiro super-herói que ouvi falar que teve úlcera de estômago, e que a namorada morreu. Pode imaginar isso no Batman, no Super-homem, ou em outros heróis de ideologia pós-guerra (Capitão América, Homem-de-Ferro, Hulk e Príncipe Namor, na série vendida nos postos Shell)? Não.

O diretor foi fundo na “desmaquiavelização” dos personagens, dando humanidade a todos os bandidos: Flash Thompson faz bullying em Peter (e em quase todo mundo na escola), mas entra em crise depois; o assassino do tio Ben (que odiei durante décadas) joga para Parker um achocolatado que ele não tinha podido comprar por falta de dois centavos. Este elemento é obra da dupla roteirista-diretor, não estava no gibi. A morte do tio Ben no filme é acidental, a arma dispara durante a disputa pela sua posse. O doutor Connors tem uma personalidade afetada pela mutação genética, mas salva Peter de uma queda no final. O personagem mais plano é próprio Peter Parker, e isso é proposital. Depois de ganhar poderes, extrapola e mostra seu lado sombrio quando humilha Flash na quadra da escola por vingança.

O roteiro pega um trecho da história do homem-aranha do qual me lembro bem, da morte do tio Ben e o começo do relacionamento com Gwen. A história é fiel aos quadrinhos, com eventuais inserções literárias para reforçar o percurso humano do herói. Por isso não tenho pudores em contar o final: termina com Peter e Gwen encontrando-se numa aula de literatura.


Detalhe metalinguístico do roteirista, que sabe muito bem que ambos são da área de bioquímica e que dificilmente se encontrariam – os dois – numa aula de literatura. A professora diz que só há um tipo de enredo na literatura: o do autoconhecimento do herói. Peter, em contato com vilões tridimensionais e com suas próprias limitações, sai de seu próprio bidimensionalismo vingativo e entra em contato com sua humanidade.

Talvez um pouco de didatismo dirigido à assistência ingênua, mas tenta sair do entretenimento linear. Melhor que nada. Está em consonância com o best-seller de Thomas Foster, Para Ler Literatura como um Professor (disponível em Português pela Lua de Papel, recomendo), que começa o livro dizendo isso: a busca do herói tem uma razão declarada e uma verdadeira, e esta última é sempre autoconhecimento. A declarada é em geral abandonada em meio à trama, pois não é a coisa em si. Peter começa a vida de aranha perseguindo o assassino do tio, e uma das últimas cenas mostra o retrato falado do assassino abandonado no quarto do adolescente. Não era o importante.

Veredicto: surpreendente, alto astral, tridimensional. O melhor homem-aranha do cinema, de longe. No mínimo, melhor que ficar rolando na cama.

Referencias:
Webb, M. The Amazing Spiderman (2012). http://www.imdb.com/title/tt0948470/?ref_=ttfc_fc_tt&licb=0.8778123097254218 . Para quem tem NET: NOW -> Programas de TV -> Telecine. Se tem NOW não tem que pagar.

Foster, Thomas C. Para ler literatura como um professor. São Paulo, Lua de Papel, 2010. . Na Cultura: http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=22097446&origem=ac&p=thomas+c+foster

Sunday, December 29, 2013

Noite abismal e seca de nossa existência

Às vezes acordo para o momento presente
Vindo de muito longe de dentro de mim
Ou de dentro de alguma outra coisa onde me enfiara
Lá de algum lugar onde meus sentidos amortecidos conformam-se reconfortados no calor de uma falsa consciência
Onde pareço viver a maior parte do tempo,
Iludido e entretido com falsas complexidades.

Nestes momentos de dolorosa e simples lucidez
Encaro o vazio de meu ser e pergunto
O que há para além de meus lamentos neuróticos
De minhas insatisfações histéricas
De minhas manias infindáveis?
Será mesmo o mundo tão ruim,
Ou imagem demonizada criada por mim
Para me cobrir de mim mesmo
Na noite abismal e seca de minha existência?

Nesses momentos de extático horror
Ainda com um calafrio me ocorre
Se a parte doente me protege do vazio
Há véu ideológico mais perfeito
Que nossa vida racional e nossas metas altruístas
E a peleja suada da conquista
Para nos cobrir de nós mesmos
Na noite abismal e seca de nossa existência?

Escrever que nem poeta



Escrever que nem poeta
É muita pretensão
É andar de bicicleta
No meio do areão
Ela não para reta
Damos co’a cara no chão!

Tomamos mais cuidado
De novo a bicha "embesteia"
Sacode, ginga, não assesta
Para o mesmo resultado:
O rosto machucado
Enfiado na areia.

Mas homem é bicho teimoso
orgulhoso brioso belicoso
e levanta outra vez ainda
pedala pleiteia peleja infinda
escrever é preciso
parar de pé não é preciso.

Soneto travado



Que portões me impedem de entrar
No seio de quem tanto desejo
Que concreto e invisível pesar
Apara minha mão e meu beijo?

Saiam pudores religiosos!
Afastem-se fantasmas do além!
Acuda-me a luxúria dos idosos
E a doçura dos pastéis de Belém

Depois da solidão de tantos quartos
Depois de tantas emoções postiças
Quero esta mulher de peitos fartos

Sorriso maroto e coxas roliças
Que nos falem cobras e lagartos
Meu corpo quer minha mente cobiça.

Perspectivas



O que nos faz sorrir,
O que nos faz embarcar
No oceano que for

É a perspectiva do amor

O que nos faz dormir
O que nos faz relaxar
Aliviar toda dor

É a perespectiva do amor

O que nos faz permitir
O que nos faz enxergar
O mundo de outra côr

É a perspectiva do amor

O que nos faz existir
O que nos faz persistir
O que nesse calor
Nos dá algum alento

A esperança de momentos
E, se estivermos atentos
A perspectiva de amor.