ÚLTIMO DESEJO
Quando eu morrer,
quero enterro chorado
soluço desesperado:
vai defunto vivido,
que nunca mais vai viver.
Quando eu morrer,
toquem a Lacrimosa
cesse, alegria ruidosa!
fui um bom sujeito,
cabe entristecer.
Quando eu morrer,
quero o meu direito
lágrima, luto, rosário:
quero todo o missário,
fiz por merecer.
Quando eu for ter
à Consolação ou à Quarta Parada
quero a minha espada
que brandiu, justa e violenta,
para a meu lado jazer.
Quando eu morrer
quero traje guerreiro
vistam-me por inteiro
que terão meus exércitos
que me reconhecer.
Quando eu morrer
esqueçam que fui ateu
– uma loucura que me deu –
e rezem pela minha alma.
Deus vai entender:
Pois, quando morrer,
apesar dessa atitude,
fiz o melhor que pude:
fui um bom sujeito,
fiz por merecer.
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