Canção da Estilística
Versinhos sem pretensão artística
fi-los p’ra
meu próprio deleite
em momentos
de estiagem
uma
homenagem à Estilística
mas talvez
a outro aproveite
lembrar as
Figuras de Linguagem.
I (de palavras)
A Metáfora é Pelé, famosa, compreendida e citada;
e a Metonímia,
irmã menor, sonho doce da petizada.
Dentro dela
a Sinédoque, que aprendi lendo Camões,
E a cristalizada
Catacrese, céu da boca dos sermões.
Antonomásia
é referenciação; esta aprendi
com o Poeta dos Escravos, escardilho
não que
fosse escravo o poeta, anadi,
mas é já
esta uma Diáfora, trocadilho.
II (de sintaxe)
Atenção
requerem as inversões:
O Hipérbato
atípicas as construções
torna, uma
inversão é, sobretudo;
Em tudo, Anástrofe é semelhante
Fazendo só no
sintagma contudo,
o que a outra
faz nas orações.
O
Pleonasmo, esse quando virtuoso,
o período, torna-o prazeroso
de ler, sem
tornar em absoluto
termo sem
função, como o Anacoluto
ele, que quebra a lógica da leitura,
faz do
texto uma aventura.
Anadiplose,
também pleonástica,
traz à
leitura beleza plástica:
bela a
palavra, bela a estrutura
bela a
frase, bela tessitura.
Na Elipse
pouco é maravilha:
o óbvio não
se expressa
pouco tudo
que brilha
leito
estreito redondilha.
(Mas se a Elipse tiver a fleugma
de omitir só
depois de expressar,
então temos
o caso particular
e (...) torna-se Zeugma)
Se duas
frases são conectas
(...) dispensam o conector
a resposta
vem provecta:
é Assíndeto
sim senhor!
Já se a sequência
o repete
e seu abuso
é uma festa
e usa e abusa e vem o pivete
o
Polissíndeto se manifesta.
Quando o
texto é um marasmo
não tem colorido
nem som
não tem um
desenho simétrico
Tasca logo
um Quiasmo
com som e cor, com cor e som
e o texto
vibra, elétrico.
Epizeuxe não
é uma dona, não
também é
figura de repetição
café com pão café com pão
café com pão bolacha não.
Ah, mas se uma dona ela fosse
Ah, mas se a pele era doce,
Ah, para Anáfora se partiria
(tampouco é
lugar que existia).
Hipálage é
minha predileta
dá à
palavra atribuição indevida
é como
dizer que a bicicleta
é magra, saudável e atrevida.
Agora
Silepse todo mundo quis
sem querer,
mas aí não vale
o recurso é
culto, assinale
a gente era obrigado a ser feliz.
III (de
pensamento)
Símile é a própria
comparação
como raio que corta céu claro
coloca imagens
em relação
transfere a
outro o traço raro.
É muito
divertido o Paradoxo
pois é lógica nossa loucura
faz liberal o pensamento ortodoxo
co’as Antíteses
e Oxímoros que procura:
e se quem
procura acha, entendo,
quem acha
vive se perdendo.
A Hipérbole
é um exagero
maior que o tamanho do universo
não é
delírio, é um tempero
que o poeta
apimenta seu verso.
Da Gradação
pouco há a dizer,
vapor que aglomera, nubla e faz chover
o mesmo com
Eufemismo,
onde pelados
tornam-se nudismo.
O Disfemismo
ao contrário, dispensa
ao objeto a
possível maior ofensa,
mas fá-lo
de maneira clara e aberta
e o
ofendido ouve a coisa certa.
Antífrase é
sarcasmo, ironia
também aqui
há ofensa
como
Rodrigues diria,
os excelentes rapazes da imprensa.
Os Lítotes não são difíceis
é só dizer
o que quer negando
o que não
quer, plausíveis
os sentidos
só quando.
Prosopopéia
é preciso vê-la
é perder o
senso na prosa
e falar com
estrela,
com bicho, com
rio, com rosa.
Enálage é
sofisticada
de tempo
verbal a muda
trouxera eu mais explicada
ofenderia a
atenção aguda.
Não direi que conheço
a Preterição,
desde o começo
a negação
que revela
a afirmação
com sua vela.
Sinestesia
é uma viagem
que afaga
os sentidos
com verde e úmida aragem,
ou queima
com rubra estiagem.
IV (fônicas)
A sonora
repetição
rolando a
rua de terra
da
consoante é Aliteração
ferido
ferro ferra.
Sua prima,
a Assonância
qual pau de varal no luau
traz sonora
constância
do som
repetido da vogal.
Sendo assunto complexo
Paronomásia requer atenção
para seu nexo convexo
não se perder na contramão:
os termos soam tão bem
divergem os sentidos porém.
Com o Paralelismo
encerramos
esta interminável
digressão
(1) sintático,
(2) rítmico e (3) semântico
os tipos em
que classificamos
uma
simétrica disposição
como
Pacífico e Atlântico
como lindo par
de ramos.
(1) Não só do
poema nos cansamos
como
tampouco foi romântico.
(2) Se
estivesse entre os eleitos,
se prezasse
a economia,
se visasse
a amante...
(3) Mas
não. E ainda dois defeitos:
alonga-se
em demasia
e parece
arrogante.
Referência:
Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. Azeredo,
José Carlos de. São Paulo, Publifolha, 2012.
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