Monday, December 02, 2013

O vento na varanda

DEIXADO à própria sorte, sou um sujeito bem estressado. Estou sempre tenso, e meus ombros são duros feito pedra. Tenho horror a erros e baixa tolerância à mediocridade. Sofro de um catastrofismo desesperado, cada coisa que não sai de acordo temo que se repita para sempre e se espalhe irremediavelmente por todo o planeta. Não durmo bem à noite, tenho sono agitado, e quando sonho tenho pesadelos.

Há momentos em que o peso escorre, como a água da banheira. É uma sensação tão estranha que penso que não sou eu mesmo. Pode ser uma cena de filme, um farfalhar de folhas, uma música do Philip Glass. Ou o vento na varanda.

Então sinto que não levo a vida, mas é ela que leva. Leve. Que não tenho ombros nem expectativas, e tudo o que acontece está certo. Simplesmente existo.


Tento fixar essa sensação mas ela se esvai, fugidia, por entre os dedos. Perde-se como um sonho esquecido pela manhã, ou um rosto bonito na saída da igreja. Fica o peso de uma vida.

1 Comments:

At 4:49 PM, Anonymous Toby said...

Much appreciate you sharing this.

 

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