O vento na varanda
DEIXADO à
própria sorte, sou um sujeito bem estressado. Estou sempre tenso, e meus ombros
são duros feito pedra. Tenho horror a erros e baixa tolerância à mediocridade.
Sofro de um catastrofismo desesperado, cada coisa que não sai de acordo temo
que se repita para sempre e se espalhe irremediavelmente por todo o planeta. Não
durmo bem à noite, tenho sono agitado, e quando sonho tenho pesadelos.
Há momentos
em que o peso escorre, como a água da banheira. É uma sensação tão estranha que
penso que não sou eu mesmo. Pode ser uma cena de filme, um farfalhar de folhas,
uma música do Philip Glass. Ou o vento na varanda.
Então sinto
que não levo a vida, mas é ela que leva. Leve. Que não tenho ombros nem expectativas,
e tudo o que acontece está certo. Simplesmente existo.
Tento fixar
essa sensação mas ela se esvai, fugidia, por entre os dedos. Perde-se como um
sonho esquecido pela manhã, ou um rosto bonito na saída da igreja. Fica o peso de
uma vida.
1 Comments:
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