Sunday, December 08, 2013

A GRAMÁTICA HOUAISS E O GOSTO DAS PALAVRAS

ENCONTREI o Edu no almoço e perguntei-lhe sobre uma Gramática. "Qual a melhor Gramática que se pode comprar hoje em dia?"

Quem conhece o Edu sabe do contexto: Edu é professor de Português da ESPM. Segundo me lembro, lá está desde priscas e longínquas datas. "Difícil dizer uma melhor" falou, arrolando nomes. "Eu quero o Caldas Aulete das Gramáticas" repliquei. Ele disse que me veria algumas opções.

Pensei que se esqueceria do assunto. Não. Pouco depois, vem Edu à minha sala com dois pares de volumes. A pilha quase lhe tampa a vista.
"Este é muito prático", mostrou.
"Ao contrário, Edu; quero o mais teórico possível. Quero explicação, interpretação, argumentação."
"Então você vai gostar do Houaiss."

E chegamos à personagem principal desta história: a Gramática Houaiss.

De fato, está tudo lá. Não se trata de obra burocrática, cheia de tabelas e regras maçantes a decorar. José Carlos Azeredo escreveu um livro com alma e opinião. Texto. Agradável de ler. Preciso, claro e erudito. Estou certo que gostou de escrever. “Obviamente, o que justifica a omissão de qualquer unidade linguística é, em primeiro lugar, o fato de sua função estrutural ou informativa ser redundante no contexto...” (p. 351).

Não é um livro para consulta rápida. Não é um livro para leitura rápida. Nada nele é rápido. Quem precisa disso? Se quer rapidez vá ao Google. Ali encontrará os excelentes Recanto das Letras ou Migalhas, para citar alguns.

Mas o Houaiss é para ser saboreado. Cada palavra faz jus a um tempo dedicado: “A matéria bruta de que se faz o mundo natural tem sua própria ordem, a qual os físicos, os químicos, os biólogos buscam desvendar mediante teorias e testes de laboratório. No entanto, o ser humano não se relaciona diretamente com o mundo à sua volta, mas com um mundo que ele carrega dentro de si mesmo como significação, como um sistema de conceitos e valores.” (p. 475).

O livro é lindo. Impresso em duas cores pela Publifolha para o Instituto Antonio Houaiss, sua estética lembra imediatamente a do Dona Benta: Comer Bem, da Companhia Editora Nacional. Naturalmente uma boa lembrança, que torna o livro mais apetitoso.

É leitura, enfim, para quem escreve. Para quem não quer desvencilhar-se da tarefa de escrever um texto, mas procura demorar-se nela o quanto pode, pois percebe na atividade a concretização de um mundo interior de subjetividade, o plasmar de uma realidade a partir de idéias, a iluminação das sombras de sua alma.

O jogo das palavras é uma representação do jogo das idéias de nosso próprio Topos Uranus.

Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. Azeredo, José Carlos de. São Paulo, Publifolha, 2012.

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